O Conselho Federal de Medicina realizou um estudo, há dois anos, sobre a qualidade de vida e as doenças que mais atingem os profissionais da Medicina. Outros estudos já foram feitos e ultimamente se tem observado que algumas doenças têm suas incidências aumentadas entre os médicos e quase todas relacionadas com a vida estressante da grande maioria desses profissionais.
O nível de estresse se inicia no período do vestibular, em que a elevada concorrência para Medicina obriga os jovens a dedicarem tempo integral aos estudos. Durante os seis anos de graduação, os dois turnos são ocupados com aulas teóricas e práticas e os períodos noturno e de fim de semana são ocupados com estágios (plantões) e estudos, o que geralmente exclui esses estudantes de outras atividades sociais, levando a um grande número de casamentos dentro da profissão.
Ao término da graduação, temos prova para Residência Médica (especialização), o que leva a um outro período de competição. São mais dois a cinco anos de aprimoramento profissional antes de entrar no mercado de trabalho. E ao concluir a Residência Médica, após oito a doze anos de estudos entre graduação e pós-graduação, se inicia a busca pelo sucesso profissional, quando se almeja o primeiro emprego.
Concurso é coisa rara e o trabalho precarizado é a regra. O corre-corre de cidade a cidade ou de plantão a plantão é responsável por um grande desgaste físico e psicológico, inclusive por mortes de médicos em acidentes nas estradas. O trabalho desses profissionais nas UTIs ou nas emergências hospitalares, quando se depara com a morte ou com o sofrimento intenso do ser humano, determina uma responsabilidade e tensão sem comparação a qualquer outra profissão.
É difícil não se envolver emocionalmente com o sofrimento de seus doentes e muitas vezes são, injustamente, responsabilizados pelos gestores pela difícil situação da saúde pública, mas mesmo assim continuam firmes, sendo fiéis ao juramento hipocrático e cuidando com amor do bem maior que Deus nos deixou: a vida.
Hoje, a realidade de mercado para o médico difere muito de 20, 30 anos atrás, quando boa parte vivia muito bem como profissional liberal. A sociedade tem de entender que o médico não é Deus e, sim, um ser humano que tem as mesmas necessidades e desejos dos outros. O médico também é passível de erro e o compromisso com a profissão que abraça o faz viver no limbo entre a vida e a morte. O médico chora, adoece, sofre e morre como qualquer outro mortal. A sua qualidade de vida está comprometida devido às precárias condições de trabalho, jornadas extenuantes, salários aviltantes, múltiplos empregos e ausência da família, sem muitas vezes ter os direitos trabalhistas que a lei garante para os outros trabalhadores. Hoje, o médico está morrendo mais cedo e muitas vezes deixando a família em situação difícil.
Infarto do miocárdio, hipertensão arterial, AVC, depressão, ansiedade, suicídio, alcoolismo e outras dependências químicas, além de acidentes automobilísticos, entre outras, são responsáveis pelo encurtamento da vida desses profissionais e da queda de sua qualidade, e deve servir de reflexão para a sociedade e para o poder público, que é o grande empregador. Ser médico é uma missão divina.
Fonte : José Maria Pontes
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
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