segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Filas na Saúde, um eterno desafio

Por: Adolfo Silva Paraiso*


Tive a oportunidade de ler na edição do jornal o Estado do Maranhão do dia 21/09/08 as propostas dos candidatos à Prefeitura de São Luís para acabar com as longas filas de espera nos hospitais e marcação de exames.


As proposições que mais se destacaram nessa enquete foram: construir hospitais e recuperar a rede atual, implantação do cartão-saúde, ênfase na medicina preventiva, informatização e descentralização do sistema de marcação de consultas, contratação de novos profissionais, agendamento por telefone ou internet e orientar a demanda com hierarquização no atendimento por grau de complexidade para evitar a superlotação dos hospitais e centrais de marcação de consultas.


O que os candidatos não deixaram bem claro, bem explícito nessas entrevistas, foi a forma, ou seja, a estratégia a ser adotada para o cumprimento desses objetivos. Nesse sentido é bom lembrar, que as filas na porta dos hospitais não podem ser tratadas como um fato isolado e decorrente do desequilíbrio entre a oferta e a demanda.


Propostas que se concentram em desenvolver formas de regular o fluxo e administrar o tempo que os clientes estão propensos a esperar, mostram na prática que são ineficazes e levam sempre a uma insuficiência crônica da oferta o que vai se materializar em mais filas.


O ideal é que se desenvolva uma sistemática que resulte na extinção das filas sem que a relação oferta/demanda seja alterada e sem transferir a fila para o computador da Central de Marcação de Consultas.


A essência do problema é encontrar uma forma de regular a oferta (limitada pelos recursos disponíveis) e a demanda, de maneira que esta última não sature a primeira.


O gestor público deve, portanto, priorizar suas ações e adotar uma nova postura frente a essa problemática. O cenário de recursos humanos e materiais inesgotáveis nos órgãos públicos são utópicos e as filas não podem ser vistas somente como um problema exclusivo do aumento da demanda.


O usuário, por seu turno, precisa participar de forma ativa neste processo não apenas com críticas, mas mudando hábitos de vida e conceitos relativos à visão hospitalocêntrica que tem sobre o atendimento médico, o que deverá ser feito mediante a participação do Conselho Municipal de Saúde.


A primeira etapa passa pelo planejamento e execução de um programa para a conscientização e educação do paciente da necessidade de haver mudanças culturais e comportamentais. É preciso mudar o conceito de que só o atendimento hospitalocêntrico apresenta bons resultados. Pelo contrário, a superlotação dos hospitais leva a uma precariedade do atendimento e, pior, às vezes sem qualquer resolutividade.


Deve ficar claro ao usuário que uma consulta ambulatorial não é um atendimento de urgência e, não sendo uma urgência, não há premência nesse atendimento, que pode e deve ser pré-agendado, ou seja, compreender que não será mais necessário entrar em estágio crítico para enfrentar a busca por auxílio médico


O uso de uma nova sistemática de marcação de consultas deve levar, pela transparência de critérios, à democratização do acesso e compromisso formal e, conseqüentemente a uma mudança comportamental na motivação de procurar pelo atendimento médico.


O mais importante em todo esse processo de reconstrução da qualidade do atendimento médico na rede pública é a valorização do profissional e o investimento em recursos humanos.


Não adianta ter um sistema gerencial informatizado, transparente, modernas estruturas hospitalares com equipamentos de última geração sem a presença do profissional comprometido, motivado e qualificado para atender ao usuário do SUS.


Dessa forma, sugerimos ao futuro prefeito de São Luís que de imediato crie um Plano de Cargos Carreira e Salário da área da saúde com uma remuneração digna e compatível com a nossa responsabilidade, para que não se corra o risco de daqui há quatro anos estarmos a discutir e enfrentar os mesmos problemas.


Adolfo Silva Paraiso

* Médico, Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Maranhão.

Sim, eu sou médico!

por Dr. Rodrigo de Oliveira Rodrigues*

Confira o artigo especial para o Dia do Médico, 18, do médico urologista, Rodrigo de Oliveira Rodrigues.

Apesar de todas as dificuldades e descontentamentos do exercício da profissão de médico, frente aos planos de saúde e as condições exaustivas de trabalho, me realizo todos os dias nessa profissão.

A medicina, como ciência milenar, é da maior grandeza em seu conteúdo de informações e admirável na beleza do estudo das funções e das fraquezas do corpo humano.

Consiste realmente em uma área única do conhecimento, completa em sua essência.

Como atividade profissional traduz-se na responsabilidade de lidar com seres humanos, muitas vezes nas frágeis condições, como enfermos, buscando curar-lhes as doenças e preservar-lhes a saúde.

Considero que a qualidade do bom médico vai muito além do conhecimento técnico-científico da medicina, consistindo na postura de um ser humano compreensível, benevolente, cúmplice e honesto sempre para com seus pacientes, acima de quaisquer benefícios.

Portanto o que me contenta em ser médico é me sentir útil e importante como pessoa, ao ser reconhecido por um paciente, agradecido a alguém que o ajudou a ficar curado e saudável de novo.

*Dr. Rodrigo de Oliveira Rodrigues é médico urologista, formado pela Universidade Federal de Uberlândia, com pós-graduação em cirurgia geral e urologia pela mesma instituição.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Vagabundos, errantes, nômades, inconstantes

Por: Clóvis A. Cavalcanti - presidente do Sindicado dos Médicos de Niterói, São Gonçalo e Região

A respeito das declarações do Governador Sérgio Cabral à imprensa:

O governador do Rio de Janeiro, Sr. Sérgio Cabral Filho, paga o aviltante salário de duzentos reais aos médicos do Estado que, com dedicação e abnegação, salvam vidas, apesar da falta de equipamentos e medicamentos, e não abandonam os seus postos de trabalho.

O governador realiza contratos pelas chamadas "cooperativas" em que há horário, vencimento fixo, chefia e outras irregularidades que devem ser observadas pelo Ministério Público.

O governador, tentando mudar o rumo da vergonhosa história contra ele, por ter prometido em campanha eleitoreira melhorias para a saúde pública, quer inverter o descaso do seu governo com as falsas promessas.

Inconstante, Sr. Sérgio Cabral Filho, são os falsos discursos em consertar o abandono nos serviços estaduais de saúde, até agora não cumpridos.

Nômade, foi a vergonha da epidemia de dengue, tão alertada pelas entidades médicas e que ceifou inúmeras e preciosas vidas.

Errante, é burlar a legalidade, com contratos pelas ditas “cooperativas”.

Errante é o vergonhoso salário pago aos médicos que trabalham em péssimas condições.

E são tantos os errantes, nômades, inconstantes, que o governador deveria pensar e repensar antes de fazer demagogias e politicagem anunciando falsas promessas, iniciando uma verdadeira recuperação da medicina, tão negligenciada em seu estado.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

SUS completa 20 anos e combina avanços inegáveis com problemas clamorosos

Autora: Renata Mariz

Matéria publicada no Correio Braziliense em 02/10/2008


O sistema que contribuiu para erradicar a poliomielite no Brasil é o mesmo que deixa crianças e adultos morrerem de dengue. No país que exibe um dos mais bem-sucedidos tratamentos públicos de Aids do mundo, pessoas esperam meses por consultas para doenças menos complexas. Uma rede com programa de transplantes que figura entre os maiores do planeta não significa, necessariamente, facilidade para fazer uma simples ecografia. A três dias de completar 20 anos de existência, o Sistema Único de Saúde (SUS) é sinônimo de contradição. Os avanços são incontestáveis. Especialistas advertem, entretanto, que problemas como falta de financiamento, gestão deficiente e dependência de serviços privados podem enterrar a rede pública de saúde brasileira.

Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o “subfinanciamento crônico” é o principal desafio. Ele menciona pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo a qual 62% de todos os gastos em saúde no país são feitos pelas famílias, e apenas 38% pelo governo, e defende a regulamentação da Emenda Constitucional 29 — que determina percentuais de aplicação de verbas na área por estados, municípios e pela União. “Ela (a emenda) definirá o que são gastos em saúde. Somente com a correta aplicação dos recursos estaduais serão adicionados ao setor mais de R$ 5 bilhões. O texto também definirá uma maior parcela de valores que serão colocados pelo governo federal na saúde”, afirma o ministro.

Embora defenda a definição de uma fonte de financiamento para o setor, o presidente do Conselho Nacional da Saúde, Francisco Batista Júnior, não concorda que dinheiro deva ser a grande preocupação. Para ele, é preciso, além de mais investimentos, mudar a mentalidade de servidores, gestores e da própria população. “Estamos educados para exigir cada vez mais leitos, mais remédios, mais médicos. Ou seja, queremos curar a doença, e não preveni-la. Precisamos inverter essa lógica. Um exemplo é a grande quantidade de hipertensos e diabéticos que existem no Brasil. Por que não investir pesado em diagnóstico precoce antes que aquela pessoa precise de exames mais complexos, de medicamentos mais caros, de transplantes?”, questiona.

Abaixo do esperado

Na avaliação de Paulo Argollo, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), o SUS está muito aquém do que se esperava 20 anos depois de sua criação. “Não tenho dúvidas de que conseguimos avanços em relação ao que se tinha antes, mas há distorções graves que precisam ser revistas”, afirma o médico. Uma delas está na quebra do princípio da gratuidade que, de acordo com Argollo, ficou caracterizada com o programa Farmácia Popular, que comercializa medicamentos a baixo custo. “Ora, o governo vende mais barato aquilo que deveria te dar de graça, conforme determinação constitucional”, critica o presidente da Fenam.

Outra falha grave, segundo Argollo, é a falta de controle social no setor da saúde, que deveria ser exercido por meio dos conselhos municipais e estaduais (formados por representantes dos usuários, de prestadores de serviços e profissionais da área). “Muitos se tornaram aparelhos políticos do prefeito, do governador”, afirma o médico.

O SUS EM NÚMEROS

140 milhões de pessoas (75% da população brasileira) dependem da rede pública para atendimento
400 medicamentos são ofertados nos três níveis de atenção: básica, estratégicas e de alto custo
28,1 mil equipes de saúde atendem 91,8% dos municípios brasileiros por meio do Programa Saúde da Família
82 milhões de pessoas dispõem de atendimento de saúde bucal por meio do Programa Brasil Sorridente
25 centrais estaduais viabilizam o maior programa público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo, tendo realizado 15 mil transplantes no ano passado
3 mil pessoas são beneficiadas com o pagamento mensal de auxílio-reabilitação por meio das ações da Saúde Mental
130 milhões de vacinas são aplicadas por anoR$ 84 bilhões é o montante de despesas totais com saúde no Brasil, sendo 48,5% gastos federais.
10% dos postos formais de trabalho no país estão na área de saúde

Entrevista - André Luiz Bonifácio de Carvalho: “É preciso qualificação”

Especialista em saúde coletiva, o fisioterapeuta André Luís Bonifácio de Carvalho atua como diretor do Departamento do Monitoramento e Avaliação da Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) desde o ano passado. Foi secretário municipal de Saúde de Campina Grande, na Paraíba, em 2003, e reconhece a dificuldade e a necessidade de articulação entre as esferas federal, estaduais e municipais para superar as limitações na atenção à saúde, mas dá dicas de qual seria um caminho a percorrer na superação do problema. “É fortalecer a atenção básica, estruturando complexos regionais de saúde”, ensina. Ao falar ao Correio sobre os 20 anos do SUS, reconhece que as diferenças regionais do país também atingem a área de saúde e acredita que o programa Saúde da Família e a ampliação da formação profissional ajudem a combater o gargalo no atendimento da população.

Por que em 20 anos o SUS não conseguiu minimizar problemas como hospitais lotados, demora no atendimento e limite no número de vagas para consulta?

Hoje a demanda é extremamente superior à capacidade que a rede tem por conta das inúmeras diferenças regionais que este país tem. Mas um caminho é fortalecer a atenção básica, estruturando complexos regionais de saúde. Um processo como esse implica articulação dos gestores, organizando suas redes públicas.

E quando será promovida essa organização?

Isso está sendo viabilizado por meio do programa Saúde da Família.

Mas como articular os governos e superar a deficiência na contrapartida de gestores estaduais e municipais?

Um ponto importante para essa superação é a regulamentação da Emenda 29, com definições claras do que são gastos em saúde. Essa definição ordenaria os orçamentos públicos. A discussão posterior seria como ordenar melhor esses recursos.

A carência de profissionais de saúde é outro ponto a ser superado pelo SUS, não?

Inclusive no processo de formação é preciso qualificação da gestão da rede de atenção básica de saúde. É um processo que está em curso e no qual o ministério vem investindo, junto com estados e municípios.